Livro- Capítulo II



Capítulo II
Reunião em família
            Skyland não era perto dali, nem mesmo perto da Terra, era apenas um lugar ao céu. Poderia ser chamada de “A Cidade dos Anjos”, já que de certa forma é exatamente isso. É lá que nascem os anjos, ou melhor, que eles são criados. Anjos não nascem como bebês. Eles não têm mães, nem pais, nem irmãos, nem tios ou primos. O mais próximo de família que um anjo pode ter é Deus, pai celeste dele e todo o resto mundo. Digamos que quem tem um mundo inteiro como irmão não pode receber muita atenção individual. Os anjos não são todos criados por Deus, na verdade só sete deles foi. Eram chamados Arcanjos e tinham como dever ajudar na ordem e manutenção do universo, assim como também criar os demais anjos.
            Cada um dos Sete Arcanjos- como são chamados os irmãos celestes: Miguel, Gabriel, Rafael, Uriel, Jegudiel, Baraquiel e Salatiel- tem uma função e suas criações devem ajuda-los a cumpri-la. Criação é como é chamado um anjo criado por um arcanjo. Para humanos, pode parecer vazio chamar de “criação” um ser que veio de você, mas não é assim que veem os anjos. A criação de outro ser exigia muita força, muito poder, por isso só acontece de cem em cem anos. A materialização de um se perfeito e o esforço que se faz para moldar toda a luz e essência necessária para se formar um anjo causa desgaste aos Arcanjos, e essa era a maior prova de amor que se poderia dar a criação.
            Miguel, criador de Laylah, é um anjo protetor. Portanto Laylah, assim como o “pai”, ajuda e guardar humanos na pior fase de suas vidas. Humanos costumam receber a vizita de um guardião apenas uma vez na vida, mas isso pode acontecer mais vezes se for uma pessoa de sorte, ou não tiver nem um pouco dela, considerando a situação em que aparecem. Gabriel, o anjo mensageiro, e suas criações entregam mensagens de anjos no céu para outros anjos em qualquer lugar que se possa imaginar. Rafael tem o dom da cura. Jagudiel matem a ordem. Salatiel cuida para que as mensagens mais importantes cheguem a Deus, as orações. Baraquiel é um anjo de bênçãos, já seu irmão Uriel é o temido anjo da morte.
            Miguel, assim como os outros sete arcanjos, da aula na Universidade Angelical. É lá que as novas ‘criações’ aprendem como serem anjos. São cem anos de curso. De inicio todos recebem aulas dos sete arcanjos, e se aprofundando mais tarde na tarefa do seu criador. Enquanto estava em sala, explicando mais uma vez como protegeu Noé do dilúvio, Miguel teve a aula interrompida por uma ‘criação’ de Gabriel. Era Dário, um jovem alto e moreno, que batia na porta já aberta como se pedisse autorização para entrar. Miguel por sua vez, preferiu sair.
- Um momento turma... - disse já saindo da sala e virando-se em direção ao rapaz que trazia um envelope.
- Mas uma assembleia?!- perguntou já sabendo do que se tratava.
-Sim, dessa vez teremos a presença de Deus. Deve ser importante.
- Sempre é... Termino de curso para alguns, Ele quer informações.
-Bem, obrigado Dário. - disse caminhando para sala onde continuará a aula.

            Quando Miguel entrou na sala de reuniões todos já estavam á mesa. Eram reuniões apenas entre os Arcanjos e Deus, o mais próximo de uma reunião em família que se tem no Céu.
- Como sempre atrasado ‘Miguelito’!- disse Uriel com seu ar de graça maldosamente moderado, ignorando os 2 minutos que ainda faltavam para o inicio da reunião.
-Não tenho tanta pressa em mostrar meu sucesso nas missões, como você tem nas suas de morte meu irmão- retrucou Miguel.
-Há! Por favor, parem... – interrompeu Jagudiel quando Uriel já se preparava para soltar a próxima piadinha como uma criança humana disputando atenção.
             Uma luz imensa invadiu a sala e eles sentiram a presença do amoroso criador, antes que essa cessasse ouviu-se a voz mansa e aveludada de Jagudiel.
- Contemplem a presença do Pai, pois só ele é o criador dos céus e da Terra e digno de verdadeira adoração... - o discurso parecia ser longo, mas foi interrompido pela voz calma do ser de luz que agora estava no local.
- Pare Jagudiel. Já nos reunimos desde o inicio dos tempos, acho que já podemos dispensar formalidades. – sim, esse era Deus e sua maneira de deixar o mais certinho dos anjos sem jeito.
A reunião começou em meio a risos, mas não demorou muito a se tornar formal como antes. Com todos aqueles números e problemas para serem resolvidos, não sobrara tempo para o abraço em família, como sempre.
            Jaguidiel -que estava sempre disposto a organizar tudo- perdeu alguns segundos simplesmente organizando suas canetas sobre a mesa por tamanho e tonalidade como se usasse todas elas, e então iniciou.
- Queridos irmão gostaria de lembrar, mas uma vez, que entregam seus relatórios...-olhava fixamente para Uriel como se todos já não soubessem de quem ele falava-...sabem que são de suma importância para realização dessa reunião.
- Queria eu que o maior problema aqui fossem relatórios atrasados Jagudiel.- Disse Miguel com um semblante preocupado de costume.- São os humanos meu Pai, agem cada vez mais inconsequentemente... Como proteger alguém que parece buscar estar mal?! Buscar a morte?!
-Miguel, quando dei a eles livre arbítrio pensei que isso poderia acontecer. Mas eu os amo como são... Sinto filho, mas isso não e algo que eu possa mudar.
             A forma amorosa como Deus se referia aos humanos sempre irritava Uriel. Eram só coisinhas frágeis e imundas que precisavam de cuidados. Pensar que anjos tão poderosos, como os Sete Arcanjos, existiam apenas para cuidar dessas coisas o irritava mais ainda. Uriel não suportava aquele amor, suspeita-se que ele nunca entendeu nenhum tipo de amor. Aquele amor fraternal que fazia os Originais amarem suas criações não habitava aquele anjo. Para ele, as criações eram tão insignificantes quanto os humanos. Não se sabe se o gosto por matar humanos tornou Uriel o anjo da morte, ou se ser esse anjo e observar o pesar de Deus a cada vez que lhes designava uma missão o fez ter vontade de matar, cada vez mais, aquelas coisas que roubavam toda a atenção de seu Pai Celeste, sendo que algumas dessas não eram nem mesmo capaz de assumir sua existência.
-E se formarmos mais anjos pai...- sugeriu Baraquiel-... E se os protegêssemos mais.
-Você sabe que não é tão simples. Até mesmo Miguel se sentiria fraco por muito tempo se houvesse mais esforço nesse aspecto.
- E por que não damos a eles o que querem?- O sorriso assustador de Uriel intrigou a todos.
Deus que parecia desorientado olhou para todos tentando entender o comentário de Uriel.
- Não está sugerindo que eu os mate, esta?
-Posso fazer isso pra você...
A face sempre serena e amorosa do Grande Pai Celestial naquele momento parecia enfurecida, com uma pancada na mesa e olhos cheios d’agua só de imaginar a morte de toda sua criação ele não conteve a emoção das palavras que saiam de sua boca.
-Não ouse repetir isso, nem por um só momento, nem mesmo em pensamento Uriel...
- Eu não te entendo. Por que continuar com isso? Por que se importar tanto com essas coisas?
-Cale-se Uriel! Você tem que me obedecer, não me questionar.
-Assim como eles fazem? A não! Esqueci que diferente de mim eles tem escolha... Você acha que não te vejo olhando para eles reunidos em volta de mesas todos os anos, devorando milhares de aves assadas, rindo da sua cara e agradecendo por você ter mandado Miguel para morrer nas mãos deles como absolvição de seus próprios pecados?
As mãos de Miguel ardiam e latejavam como sua cabeça. Grandes buracos se abriram nelas, aquelas eram marcar que ele queria esquecer, mas as palavras ditas por Uriel chegavam a machucar mais que os pegos enfiados em suas mão a muito tempo atrás.
-Já chega Uriel!- Disse Jagudiel jogando o irmão contra a parede. A rajada de força invisível o fez cair e ele se retirou enfurecido da sala enquanto Rafael usava sua luz para fechar as feridas nas mãos de Miguel.
            A forma em que Miguel e Uriel se tratavam deixava a mostra o sentimento que sentiam um pelo outro. Raiva?! Não se sabe. Anjos são perfeitos e raiva é mais um sentimento imperfeito humano. Ou talvez a definição de ‘perfeição’ aplicada á um anjo não envolva seus sentimentos. Não se sabe muito sobre o que um anjo pode sentir, nesse aspecto, podem ser imprevisíveis como os humanos. O que se sabe é que podem ser invejosos como Lúcifer e que o único amor que já foi experimentado por um dele é o amor fraternal. Os anjos se amam entre si, se amam como uma grande família de milhares e milhares de irmão, o amor mais puro que se pode ter. E fora isso mais nada. Até mesmo o amor de Originais por suas criações são ditos como impossíveis por alguns deles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário