Sereia
Não
era dia, nem noite. A visão do mundo já não era nítida, era o momento em que
temos a chance de encontrar o sobrenatural. E eu o encontrei.
Ela
nadou até mim, acenou, quando ainda estava no meio do oceano, e sorriu. Quando
chegou a praia, subiu em uma pedra e o sol de fim de tarde refletiu em suas
escamas escuras um brilho multicolor, furta cor. Parecia ofegante, como se
tivesse vindo depressa demais.
Sentados
nas rochas falamos de tudo. Contei-lhes sobre a terra e ela me falou dos mares.
Deitamos na areia e contemplamos a lua cheia em silêncio. O céu era o mesmo,
visto da terra ou do mar, e isso nos fazia sentir iguais.
Quando
eu contava alguma piada infame sobre sua condição não totalmente humana, ela
fazia cara de brava e jurava me cantar uma canção. Me enfeitiçar, me levar para
o fundo do mar e tirar-me o último suspiro com um beijo. Eu juro que às vezes
queria, eu juro que fazia piadas até demais.
Mas
ela nunca me cantou nada, ela nunca me tocou com seus lábios de veneno. Suas
mãos sempre visitavam minha pele seca e as minhas passeavam pela sua hidratada
e com aspecto sempre molhado e fresco.
Seus
dedos sempre entrelaçavam nos meus durante a despedida, nossos olhos se
encontravam e, depois, eu a via sumir na imensidão azul, antes que o sol
nascesse novamente. Eu sempre voltava tão cansado para casa, que não sabia o
que era sonho e o que era real. Então, eu esperava mais uma lua cheia, mais uma
vez o momento de vê-la. Aquele momento quando não é dia, mas também não é
noite.
Texto dedicado a uma sereia sem nome, sem adeus, sem saber se é real ou não. E que, ao me conceder uma fração de seu tempo, deixou em mim a marca de seus olhos. Feitiço mais cruel que seu canto, veneno mais mortal que seu beijo.
Texto dedicado a uma sereia sem nome, sem adeus, sem saber se é real ou não. E que, ao me conceder uma fração de seu tempo, deixou em mim a marca de seus olhos. Feitiço mais cruel que seu canto, veneno mais mortal que seu beijo.
|@eufragmentos
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