terça-feira, 23 de junho de 2015

Cinco quilômetros de vida


           

Tony amarra um de seus cadarços enquanto olha para o relógio apreensivo. Já fazia bastante tempo que tinha esse caminho como habitual, mas os minutos antes sempre o deixavam assim. Ele levantou-se, se alongou, trancou a porta e começou. Primeiro caminhando, depois acelerando mais e mais até chegar ao ritmo de costume. Já deixava para trás meio quilômetro, quando avistou a velha lanchonete onde, quando pequeno, tomava sorvete com a primeira garota que fez com que coração acelerasse mais que aquela corrida. Ver esse lugar o fazia sorrir diariamente. Dois quilômetros e alguns metros, já sentia cansaço nas pernas. A paisagem era verde e o outdoor que anunciava o serviço do melhor advogado da cidade era quase um crime em meio a tanta beleza natural, mas o fazia lembrar-se do passado. De quando o homem de terno estampado no cartaz era só mais um colega, porem o colega que o apresentou a mulher que o tornaria homem, uma bela mulher de cabelos vermelhos. Três quilômetros, as pernas formigam, a vista embaça e assim que avista novamente vestígios da cidade o cheiro de pão fresco o faz lembra que foi na padaria de onde esse vinha que comprou o mais belo e maior bolo branco que já vira em uma festa, o de seu casamento. Quatro quilômetros. Ele pensa que já está cansado demais pra continuar, mas supera esse pensamento e as pernas se tornam tão automáticas que toda dor some. Nesse quilometro não havia nada em especial, as casa eram feias e sem vida. E isso o fazia se perguntar: “Por que deixei a chance de ter uma vida inteira ao lado da primeira garota que fez meu coração acelerar, pra quem comprei um bolo branco enorme anos depois, por apenas mais uma noite com a garota de cabelos vermelhos?”. Ele não tinha respostas para essa pergunta, por isso o nada o fazia lembrar-se disso. Seu quinto quilômetro estava acabando e então ele avistou um banco. Ele sempre lhe dava vontade de parar para descansar, e assim ele fez. Sentou-se e esperou olhando para os portões da escola a sua frente. Os portões se abriram e no meio da multidão de crianças, uma linda garotinha de cabelos escuros veio em sua direção e o abraçou. Enquanto apreciava cada segundo ao lado sua filha, ouviu um automóvel buzinar alguns metros. Era ela, mais linda que nunca. Ele via sua filha correr até o carro e depois esse indo embora na estrada todos os dias e imaginava o dia em que suas pernas seriam fortes e sua coragem grande o bastante para que ele levantasse, fosse a até o carro e olhasse nos olhos dela mais uma vez, iniciando assim seu sexto quilômetro.


Texto dedicado ao meu amigo Antônio L., mais um homem que precisa iniciar seu sexto quilômetro.

sábado, 10 de janeiro de 2015

The Truth

"A verdade meu jovem é que, na maioria das vezes, se as pessoas soubessem as consequências dos seus atos no momento em que os realizam, elas continuariam fazendo. E é por isso que admiro  as pessoas que não tentam mudar seu passado, elas sabe que agiriam igual." Era o que dizia o velho enquanto arrumava seu chapéu e aguentava a dor de ama-la, consequência que escolheu pra si.

Como chuva

"O amor é como chuva de verão, que vem de repente pra arrancar sorrisos do sertanejo", dizia ele enquanto eu fugia com meu guarda chuva em direção a minha casa. Ao chegar adormeci no sofá da sala e sonhei, sem perceber a goteira acima de mim.

Ela





Quem é ela? Ela é uma lua de infinitas fases. Fases que duram semanas ou, quem sabe, um minuto. Ela é onda que beija o paredão de rochas e retorna ao mar sem dizer “tchau”, por não gostar de despedidas. Mas também é a louca que sempre retoma um assunto após um “ate logo”, por medo que esse vire um “adeus”. Ela é quem reclama do seu jeito, mas te quer como você é a cada dia mais. Ela é o orgulho besta que não mudar de ideia, mas pede desculpa por ser assim. 
Ela? Ela é como um raio de sol em manhã nublada. Que trás esperança de um dia ensolarado? Não mesmo, é assim apenas por não se vê nuvem. Ela é neblina, sereno, garoa, pequena tempestade, que pode ser deliciada sem guarda chuva.  Ela é a terra que te soterra vivo, e também a mão que te salva. Ela é como um antigo gravador, capaz de esquecer-se de ler o lembrete que pregou na geladeira sobre algo importante, mas que se lembra de cada detalhe ao seu lado.   
Ela é mapa, que leva lugar algum. Ela é ursinho sorridente esquecido na prateleira, que de tanta poeira mudou de cor e mesmo assim sorrir. Ela é revolver, que dispara até sem munição. É trilha em mata devastada. Ela é tudo que você não quer, mas talvez o que você precisa.

Texto dedicado a Ana Claudia, minha melhor amiga, e talvez um pouco "ela" assim como eu.