Os
óculos me incomodavam novamente. Precisar daquela mascara bizarra pra enxergar
chegava a ser estressante. Sim, eu odiava aquilo. Enquanto o ônibus deslizava pela estrada, o
tédio ocasionado me fez olhar para todas as direções. Recosto minha cabeça no
banco e conformo-me a olhar para o teto, que naquele instante me pareci tão interessante
quanto um filme Hollywoodiano, até que vejo pela janela algo que realmente
merecia minha atenção. Um céu estrelado de um negro incrivelmente negro e estrelas
incrivelmente estrelas. O incômodo retornou e o reflexo nas lentes me fez notar
marchas. Retiro o óculos e enquanto o limpo em minha camisa dou mais uma
espiada no belo espetáculo noturno. Mas dessa vez o negro da escuridão não me
parecia tão negro assim, as estrelas estavam mais turvar e em menor quantidade
e o deslumbre que senti ao ver o céu anteriormente não existia mais. Quando
voltei a enxergar aquela beleza um suspiro escapou inevitavelmente. E tudo que
se passava pela minha cabeça era a pergunta “Quanta vezes deixei de observar o
céu por pensar que ele não passava de um borrão?” Talvez eu não odiasse aqueles
óculos tanto assim.