[SEM SPOILER]
O
livro acompanha dois detetives que investigam alguns assassinatos cruéis que
ocorreram em Recife. É dividido em quatro partes eu, particularmente, fiquei
grudada nas duas últimas partes e só larguei quando terminei. A história é
envolvente, tem um ritmo bom e mais corrido no final, o que te faz perder o fôlego com tanta informação.
Rodrigo,
um detetive experiente que investiga os casos, é um personagem inicialmente
desinteressante, mas vai te pegando com os detalhes de sua história. É pesado
ler o que ele tem a dizer depois dos primeiros capítulos. Já Alexandre, o
detetive júnior assistente de Rodrigo, se mostra um jovem inteligente e que
adora cultura pop (vou confessar que as vezes chega a incomodar essas
características nele).
Talvez
por já ter acompanhado várias histórias com a temática, eu já imaginava os
acontecimentos por trás dos crimes, mas meu queixo caiu com a forma que tudo se
resolveu, adorei a forma como a parte final do livro foi desenvolvida. Eu vi
alguns problemas em pontos específicos da história, mas vou deixar isso para a
parte com spoiler para não acabar falando demais e estragando a experiência
para alguém.
[COM SPOILER]
Uma
das primeiras coisas que me deixou feliz foi o fato da história se passar no
Brasil, apesar de eu não ser ambientada com as paisagens de Recife, os detalhes
sobre ruas e tudo mais torna tudo mais real e chocante. Porém as várias explicações
sobre costumes do país e a frequência em que o nome dele é falado me incomodou
um pouco. Às vezes eu tinha a impressão de que haviam notas de rodapé
explicativas no meio do texto.
Os
capítulos alternam sobre o ponto de vista dos dois detetives, mas não é necessário
ler o nome do personagem que narra o capitulo. As narrativas são bem diferentes
quando feitos por Rodrigo ou por Alexandre, principalmente no início do livro,
o que ajuda a fixar na cabeça a personalidade de cada um. Nessa parte inicial acho que o que me deixou receiosa foi a forma como Rodrigo descreve ao parceiro e si mesmo no primeiro
capítulo, me pareceu uma lista pronta de características. Rodrigo dizer que seu
parceiro parece um modelo e que ele é um coroa alto e malhado, isso deixou um
ar prepotente e desagradável a leitura (mesmo ele sendo talhado como um personagem
egocêntrico achei forçado, até para ele).
O
discurso pro-privatização de Alexandre, em um de seus primeiros capítulos, me
incomodou bastante.Considerando que as questões políticas estão sendo mais discutidas
atualmente, pode ter sido uma tentativa de deixar tudo mais real, mas ao meu ver foi um pouco demais. Não foi um trecho de uma conversa qualquer sobre política
que foi interrompida por uma notícia chocante, foi um discurso político no meio
do capitulo de apresentação do personagem, entre um parágrafo que fala de um
crime horrível que ocorreu no ano anterior e outro em que fala da excitação de
um jovem que trabalha com um cara que admira.
Outra
coisa que incomoda é que quase todos personagens são descritos como bonitos,
magros e ricos.
Muitos
dos pensamentos deveriam ser transformados em diálogos, o livro parece ser um
antro de personagens introspectivos que pensam muito e falam pouco. Dois homens
fazem uma viagem de carro, um deles reclama dos buracos de estradas (que não é
a que eles estão agora e de como a política influencia nisso, ao invés de conversarem
com o outro sobre isso)
As
cenas tristes, são bem tristes e reais. Rodrigo é um personagem sério, nada
feliz e com dificuldade de expressar sentimentos. Chega a ser confuso ler ele
tentando ser gentil. Alexandre é o cara que explica a história. Isso as vezes
funciona muito bem, outras não. Mas não acho que seja um problema.
Rodrigo
é muito sexual. Todo dia termina com ele se masturbando, todo capitulo envolve
sexo. Ele parece um jovem de 16 anos que fantasia sempre com isso. (Menos
Rodrigo, seus mais de 40 anos não serviram para você aprender que sexo não é
tudo isso?).
Fiquei muito chocada com o capitulo do Natal. A-P-E-N-A-S!
Apesar
de eu achar que precisaria ter mais dialogo, os que tem são em sua maioria
muito bons. Alguns capítulos são tão bem fechadinhos que funcionariam como um
conto ou crônica, se estivessem sozinhos. Eu gosto da profundidade dada a
Rodrigo. É tão detalhando que chega a ser incomodo as vezes. Me senti intima dele,
talvez até demais.
Enfim,
o livro não tem medo de chocar. Tem temas fortes, cenas fortes e, até mesmo, pensamentos
fortes. E eu seria louca se não o recomendasse.