quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Embriagando Dúvidas

    
E lá estava eu. Um jovem sentado em uma mesa de bar, rabiscando em um guardanapo de papel, a ideia que eu queria que todos tomassem como verdade. Procurando no fundo do copo, uma luz que me tirasse de um fundo ainda mais obscuro e profundo, o fundo do poço. Mas um, entre os milhares que não sabia o que fazer da vida. Mas diferente daqueles que não gostavam especificamente de nada, eu amava tudo, e isso só tornava a minha escolha  ainda mais difícil. Um velho bêbado, dito por muitos sábio e por outra porção de muitos louco, sentou ao meu lado e leu em meu ideológico guardanapo a frase " A escolha é minha!". E com um sorriso afetado, que naquele momento me pareceu mais bêbado que o próprio velho, acenou com a cabeça a concordar:
- Sim a escolha é sua...
A simpatia do divertido senhor , provavelmente acrescida das várias doses que visitaram meu copo antes de ser esvaziado de novo e de novo, me fizeram confessar a ele meu dilema. Eu lhes contei dos planos do meu pai artista com relação o meu dom para desenho, dos sonhos da minha mãe em me ver tocando eu uma grande banda de música clássica, da minha quedinha por matemática e de como eu amava tudo aquilo. Falei também do meu medo de errar e da minha mania de querer algumas coisas só pra mim. O velho me ouviu atento, e ao fim tudo que me disse foi:
- Seja como um cafetão...
Notando minha confusão mental continuou a explicar:
- Imagine um cafetão, um homem que realmente ama mulheres. Imagine agora dois tipos de mulheres na vida dele: suas "funcionarias", ele fez um sinal de aspas com os dedos, e sua esposa. Suas "funcionarias" - Disse repetindo o sinal- São coisas que ele gosta, mas que não ver problema algum em trocar por dinheiro, já sua esposa é algo só seu, que prefere guardar pra si. Seja como ele, escolha uma coisa que realmente gosta para fazer, mas defina as coisas que você não está disposto a partilhar com outros por dinheiro. Guarde a sete chaves o que acredita ser só seu, mantendo seguro e puro o que você ama.
As palavras do velho me fizeram pensar e seriam, mais tarde, o que me fizera tomar um rumo na vida. Infelizmente, tudo que pude fazer por aquele homem foi lhe pagar  algumas doses de bebida para que continuasse em seu delírio. Se bem que, considerando a sanidade exagerada dos dias de hoje, talvez isso fosse tudo que um velho louco precisava para se manter sábio.

Texto dedicado a Leandro Pasqualetto, um amigo fiel que sempre me doa suas histórias e a quem confesso meus segredos. São tantos retalhos de mim que tu tens, e são muitos  os seus que agora fazem parte de mim.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Cheios vazios

"Você já se pegou olhando para o vazio com os olhos cheios de lágrimas?"

Porque aquele vazio era cheio.
Era cheio de saudades, de lembranças, de pesares
De versos, de sons e risos,
De erros, acertos, e olhares.

Antes cheio de você
Agora sem você aqui
Só me resta esse vazio
Imenso contido em mim.