E lá estava eu. Um jovem
sentado em uma mesa de bar, rabiscando em um guardanapo de papel, a
ideia que eu queria que todos tomassem como verdade. Procurando no
fundo do copo, uma luz que me tirasse de um fundo ainda mais obscuro e
profundo, o fundo do poço. Mas um, entre os milhares que não sabia o
que fazer da vida. Mas diferente daqueles que não gostavam
especificamente de nada, eu amava tudo, e isso só tornava a minha
escolha ainda mais difícil. Um velho bêbado, dito por muitos sábio e
por outra porção de muitos louco, sentou ao meu lado e leu em meu
ideológico guardanapo a frase " A escolha é minha!". E com um sorriso
afetado, que naquele momento me pareceu mais bêbado que o próprio
velho, acenou com a cabeça a concordar:
- Sim a escolha é sua...
A simpatia do
divertido senhor , provavelmente acrescida das várias doses que
visitaram meu copo antes de ser esvaziado de novo e de novo, me fizeram
confessar a ele meu dilema. Eu lhes contei dos planos do meu pai
artista com relação o meu dom para desenho, dos sonhos da minha mãe em
me ver tocando eu uma grande banda de música clássica, da minha
quedinha por matemática e de como eu amava tudo aquilo. Falei também do
meu medo de errar e da minha mania de querer algumas coisas só pra
mim. O velho me ouviu atento, e ao fim tudo que me disse foi:
- Seja como um cafetão...
Notando minha confusão mental continuou a explicar:
- Imagine um cafetão, um
homem que realmente ama mulheres. Imagine agora dois tipos de mulheres
na vida dele: suas "funcionarias", ele fez um sinal de aspas com os
dedos, e sua esposa. Suas "funcionarias" - Disse repetindo o sinal- São
coisas que ele gosta, mas que não ver problema algum em trocar por
dinheiro, já sua esposa é algo só seu, que prefere guardar pra si. Seja
como ele, escolha uma coisa que realmente gosta para fazer, mas defina
as coisas que você não está disposto a partilhar com outros por
dinheiro. Guarde a sete chaves o que acredita ser só seu, mantendo
seguro e puro o que você ama.
As palavras do
velho me fizeram pensar e seriam, mais tarde, o que me fizera tomar um
rumo na vida. Infelizmente, tudo que pude fazer por aquele homem foi
lhe pagar algumas doses de bebida para que continuasse em seu delírio.
Se bem que, considerando a sanidade exagerada dos dias de hoje, talvez
isso fosse tudo que um velho louco precisava para se manter sábio.