sábado, 15 de novembro de 2014

Azul




Marco sempre foi um menino curioso. O pobre garoto não frequentava a escola e passava os dias na rua, dependendo dos generosos trocados de estranhos, que lhes davam o que comer antes de dormir. Mas sua curiosidade o fazia passar horas sentadas num banco de uma pracinha em frente à escola municipal se perguntando: “o que as crianças fazem lá dentro?”. Havia também um jovem, e recém-formado, professor que frequentava aquela praça e lia seu jornal todos os dias. A curiosidade de Marco rapidamente fez do professor seu companheiro de conversa. Em um desses dias, o jovem professor apareceu usando uma camisa azul. O garoto sorriu ao notar a paz que aquela cor o trazia e comentou:
- Gosto dessa cor.
- Sabe com se chama essa cor? - Pergunta o professor, talvez na tentativa de passar algum conhecimento ao garoto.
- Não sei ao certo. Mas não importo, eu gosto... É minha cor preferida.  -Responde o garoto, envergonhado por não lembrar o nome da cor.
- Mas como pode gostar de algo que não conhece? - Pergunta o professor.
-Mas eu a conheço, só não sei seu nome... Essa cor é “da cor do céu”.
- Geralmente, sabemos o nome de alguém que conhecemos. – Ele realmente queria que o garoto achasse necessário saber o nome da cor.
- Professor, você gosta do seu cachorro?  -Pergunta o garoto.
-Sim, adoro o Bob, por isso sei o nome dele.
- Bob... Esse é o nome que o senhor deu a ele. Mas não sabe o nome dele. A mãe dele pode ter o chamado de José e os amigos dele podem até o chamar de Zé...
O professor interromper o garoto e diz:
- Mas o cachorro é meu, eu o chamo como quiser.
- A cor preferida também é minha, por que não posso chamada de “da cor do céu”?
O professor ri.
- Mas a cor não é sua, a preferência da cor é sua.
- Eu posso dar um nome pra preferência então?
- Mas a preferência já tem um nome, é a preferência por cor.
- Me deixa ver se eu entendi. Você pode dar um nome ao seu cachorro, mas não posso dar um nome a minha preferência de cor?
O professor, notando a confusão que se formal, suspira e diz:
- Eu só queria que você respondesse “azul” quando alguém perguntasse sua cor  preferida.
                 Ao longe, um professor mais experiente observava a conversa, e intrigado resolve se aproximar para saber de que se trata essa conversa que lhes parece tão interessante.
- Ola professor, a conversa ta boa ai? Fique até curioso, sobre o que tanto falam? -Pergunta o velho professor com um sorriso simpático no rosto.
- Sobre cores. – responde o garoto.
- Hum, interessante! E qual é sua cor preferida meu pequeno?
- Azul. – responde o garoto olhando para jovem professor que sorri.
O velho professor, sendo o mais admirado da escola em que trabalha por seus sempre certeiros comentários, faz uma pausa. Observa o céu e com um tom filosófico na voz diz:
- Azul é uma boa cor, “da cor do céu”.

Texto dedicado a Tio A. Lima, por me mostrar o quanto ser "azul" pode ser bom.