Essa noite um velho amigo me
confessou que sofria de um amor não correspondido, ou até correspondido, mas
tímido e contido, reprimido pelo medo do incerto futuro que o aguardava. "Moramos
em cidades distantes”, ele disse, "E se aproxima o dia em que retornaremos
para elas." Eu entendi o receio de ser machucada que fazia com que a
garota não o correspondesse, mas não compreendia como alguém se negaria a
receber amor. Ser alvo de algo maior do que desejo é raro nos dias de
hoje, e sentir algo mais que isso, é de uma raridade igual. Desse modo, para
mim não fazia sentido deixar o medo do depois interferi no agora.
Minha falta de talento em dar
conselhos pesou nesse momento e não pude propor uma solução, muito menos
conforta-lo. Eu lhe pagaria uma bebida, se não estivéssemos tão longe
fisicamente, velho amigo. A tecnologia permite que você me conte do seu infortúnio,
enquanto olho para o monitor, mas não permite que eu te ajude a afogar um problema
no álcool, ou que eu te conforte com um abraço.
Depois de pensar por um tempo, eu
soube o que te dizer, mas você havia se recolhido e provavelmente já dormia.
Mesmo assim, quero que leia meu conselho tardio, pois pensar nele me tirou o
sono por tempo suficiente pra que eu perceba que me importo contigo. Ouça, se a
insegurança dessa garota não a deixar sentir, apenas aceite, amar é para
corajosos atualmente. Mas não se deixe,
de maneira alguma, sofrer por desamor alheio. Porque amor só é válido
quando vem dos dois lados, quando vem só de um é ilusão, descontentamento, sugestão
de uma alma inquieta para suicídio do coração.
Texto dedicado a Renato Nogueira, que
confiou a mim um pedaço seu e a quem devolvi um pedaço meu em forma desse
conselho.