terça-feira, 12 de junho de 2018

Hagrid e a Mãe dos Dragões



            Era dia e o beco diagonal estava agitado e misterioso como sempre. Hagrid olhou para um lado e para o outro, como de costume, e adentrou a travessa do tranco. Ele precisava ir à loja do seu amigo Hector. Hector séria capaz de lhe oferecer toda carne necessária, desde que Hagrid não lhes perguntasse de onde ela vinha. A fome insaciável de Norberto não lhes deixou escolha. Quando entrou no estabelecimento e pediu sua encomenda, cumprimentou uma simpática velhinha de cabelos completamente brancos e olhos violeta que recebia um pequeno pacote, quase do tamanho de uma caixinha de anel.   Enquanto ela pegava o pacote, Hagrid notou um pequeno rabinho saindo da bolsa dela. A velhinha o colocou pra dentro da bolsa e saiu apressadamente da loja. Hagrid mal recebeu sua encomenda e correu atrás dela, ele sabia o que tinha visto.
― Senhora! Espere! ― gritou o meio gigante ofegante.
Ele se aproximou dela, que o ouvia atentamente.
― Desculpe te abordar assim, mas eu preciso saber... ― Não sabia exatamente como falar daquilo, então foi direto. ― A quanto tempo é mamãe de um dragão? ― perguntou ele apontando pra bolsa.
A velhinha sorriu uma gargalhada aguda e contagiante.
― Há muito tempo, meu filho. Há muito tempo...
― Eu também sou! ― cochichou o  grande homem com um sorriso orgulhoso e bobo. Seu sorriso bobo foi seguido por um suspiro. ― Não sei mais de onde tirar tanta carne. ― completou.
            A velhinha riu alto, bem mais alto que da outra vez, o que fez o meio gigante rir também. Quando finalmente parou de gargalhar, lhe disse.
― Gostaria de uma xícara de chá?  Moro logo ali na frente, seria ótimo conversar sobre meu pequeno.
            O convite foi aceito e os dois caminharam até a casa simples no fim da rua. Ao chegar lá Hagrid notou que a velhinha tinha um amor incomum por dragões, eles estavam estampados em toda sua casa. O item que lhe chamava mais atenção era a bandeira negra com um enorme dragão de três cabeças vermelho estampada nela.
Enquanto tomavam o chá forte e comiam biscoitos, Hagrid falou de seu dragão Norberto e de como ele era faminto e agressivo. A velhinha tirou então o pequeno dragão negro com manchas cor de sangue da bolsa. Apesar de pequeno o Dragão aparentava ser adulto e tinha varias cicatrizes em suas escamas.
― Acho que não conheço essa espécie de dragão. ― disse o grande homem.
― Não me admira, Drogon e eu viemos de muito longe. ― Respondeu a senhora. ― Sabe, quando mais jovem ele também era muito agressivo como seu Norberto. Mas um amigo uma vez me disse que dragões são criaturas muito incompreendidas, talvez seu pequeno só precise de mais espaço, talvez ele só esteja querendo voar. ― Disse a senhora com os olhos violeta brilhando, ao observar seu dragão.
― Mas como consegue manter Drogon nessa bolsa apertada? Eu mal consigo manter Norberto escondido em casa.
― Isso é um habitat mágico bobinho! E Drogon está encolhido, é gigantesco para ele lá dentro.
― Encolhido? Interessante! ― Falou o gigante tendo ideias secretamente em sua mente.
 ― Sim! Em seu tamanho natural ele seria capaz de destruir toda Londres em menos de uma hora, se nenhum bom bruxo o impedisse.
― Senhora, o chá estava uma delícia, mas tenho que ir. ― Ele não via a hora de colocar em praticas as ideias que acabara de ter.
― Volte mais vezes, adoraria falar mais sobre essas criaturas maravilhosas e te contar sobre meus outros dois bebês. ― O sorriso gentil da senhora fazia o meio gigante se sentir acolhido.
 ― Certamente voltarei. ― Aquilo era uma promessa para si mesmo.
― Ah! Meus cumprimentos a Dumbledore. ― Disse a velhinha quando ele saia.
Ao chegar em Hogwarts, Hagrid foi direto a sala de Dumbledore resolver assuntos da escola e ao chegar lá não se aguentou de curiosidade e perguntou ao bruxo mais sábio que conhecia, se ele sabia algo sobre a senhorinha com quem havia conversado naquela tarde.
― Daenerys? Não conheço ninguém com esse nome. ― disse o velho bruxo, por trás de seus óculos meia lua.  ― A única Daenerys de quem já ouviu falar é  a chamada "mãe de dragões”. Ela viveu a muito tempo, na época em que o mundo era apenas três porções de terra e a magia quase desapareceu dele. Dizem as lendas que quase não havia mais magia e nem seres mágicos. Mas um dia, desgostosa pela morte de seu filho e seu marido, a rainha Daenerys Targaryen entrou na pira de fogo que os cremava com três ovos de dragão há muito tempo transformados em pedra. E então, deles nasceram três dragões. E, também deles, renasceu toda magia. Mas isso é apenas uma lenda, uma história pra crianças.
― Entendo. ― Disse o gigante pensativo, caminhando em direção à porta. 

Quando já estava distante o bastante para desistir de histórias infantis, decidiu voltar-se novamente para o professor.
― Só mais uma pergunta, professor. Sabe como se chamavam os dragões? ― Indagou o gigante.
 ― De dois deles, não me lembro ao certo. Morreram ao logo das batalhas enfrentadas pela rainha Daenerys. Mas o maior e mais forte deles se chamava...
―Drogon! ―completou o meio gigante incrédulo, antes que Dumbledore pudesse terminar.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Carta à exceção (The Only Exception)


Inspirado na música : Paramore - The Only Exception (<<click para ouvir) 


10 de Abril de 2017
Querida garota que senta na terceira cadeira da primeira fila....

            Tenho observado as garotas que estudam na mesma escola que você e eu. São garotas bonitas, que sempre vestem suas melhores roupas as sete da manhã e elogiam umas às outras ao passa pela porta. Mas em meio a todos aqueles perfumes caros e cores de esmalte diferentes, eu notei você. Você não usa esmalte algum e tem cheiro de sabonete de bebê. Você usa sempre roupas claras e sem graça, e seu cabelo está sempre amarrado em um rabo de cavalo curto. Eu me perguntei o por que você não usa nada na cara, ou nenhum acessório, e logo me veio à mente que talvez você não queira ser notada. Talvez queira ficar sozinha, no lugar que sempre ocupa na sala, lendo um de seus livros. Afinal, você sempre carrega um. Mas você não percebe que ser assim só chama mais atenção? Eu mesmo não tiro os olhos de você há dias. Ser tão límpido, tão claro, tão verdadeiro, nos dias de hoje é muito chamativo.
             Você não cobre as imperfeições do seu rosto, muito menos tenta mostrar as partes mais perfeitas do seu corpo. Não se preocupa em combinar suas vestes com o calçado, nem mesmo se importa com o fato de que as meias que está usando agora são de pares diferentes. Nunca te vi excessivamente arrumada, nem mesmo com um penteado diferente. Nada de risinho delicados, está sempre gargalhando alto e mexendo as mãos demais quando fala. Não anda desfilando como se o mundo fosse seu palco, mas cria muitos mundos nas várias telas que pinta na aula de artes, nos poemas que recita no grupo de literatura. Você acha que não percebo como suas pinturas são coloridas, como tudo que sai da sua mente é único?   Eu noto, e lamento por você ser a única exceção que encontrei durante minhas observações.
             Você não pode imaginar a repulsa que senti ao perceber que as pessoas riem de você por ser assim, que fazem piadas e te colocam apelidos. Pessoas tão coloridas e harmônicas por fora, mas podres por dentro. Como eles não percebem como você é singular? Você é como uma obra de arte, moça! A genialidade do contraste entre sua aparência cinza e sua mente multicolor é sublime, nunca deixe que te convençam do contrário. Você é uma exceção que merece virar regra!


Assinado,
Um observador que teve o coração partido ao te ouvir chorando no banheiro.