Era natal. Os
natais não eram mais como antigamente, não haviam mais presente, nem jantares
animados, nem crianças correndo ao redor da mesa. Só havia barulho. Um barulho
interno que não cessava. Embora por fora fosse tudo aparentemente semelhante,
ela sabia de tudo que se escondia por trás daqueles sorrisos falsos. E o
barulho crescia, e cada gota de chuva no telhado soava como uma batida de
tambor ensurdecedora em sua mente. E então ela sentiu seu corpo esquentar
subitamente. Subiu as escadas, recolheu do armário seu capuz vermelho e correu,
correu o mais rápido que podia. Passou pela porta deixando-a aberta e deixando
para todos sentados à mesa, todos que aparentemente não notaram sua explosão
interior. Fazia frio lá fora, e as luz da decoração natalina a incomodava,
então ela andou e andou até que achou um lugar diferente. Era uma antiga
capela, estranhamente não natalina. Não havia luzes, tudo parecia velho, e havia
duas grandes árvores perto de suas escadarias que as tornavam escuras. Ela
sentou nos degraus molhados e, apesar do frio, retirou os braços das mangas do
seu capuz. Amarrou as pontas das mangas em volta de seus ombros e ficou ali,
deliciando-se no abraço mais verdadeiro que á receberá naquela noite.