domingo, 30 de março de 2014

Visita

O relógio marcava 23:30h quando ela bateu a porta. Bateu e esperou que eu abrisse, como se precisasse da minha permissão para entrar. Sentou-se ao meu lado sem dizer uma palavra e apenas me olhou por alguns minutos. Sua face, antes risonha a gozar do que eu sentia sempre que me visitava, hoje parecia desapontada, como realmente estava.
    - Sabe meu querido, minha visitas geralmente me divertem. As pessoas choram um pouco, lembram coisas boas e logo voltam a sorrir. O tempo passa e cada vez as lembranças ruins vão se indo, até que não preciso mais visita-la. Mas já te visito a um tempo e você está sempre igual... Não entendo porque és assim.- Disse a Saudade a me encarar enquanto cruzava as pernas de modo que o bico do seu sapato vermelho apontava meu relógio de parede.
Eu também não entendia o que ali se passava, então apenas suspirava e nada falava.
   - As pessoas me esquecem, logo encontram um novo amor, e deixam a Saudade de lado... Me deixam de lado.- ela baixou a cabeça como quem desejasse ouvir algo e naquele momento notei que a Saudade também sentia saudades.
   - Senhorita Saudade, a muitas semanas você é a melhor (era a única) companhia que tenho. Você me ouvi e até chorou comigo...- antes que pudesse termina a Saudade me interrompe.
   - Sou apenas a lembrança de alguém que você já amou, um dia você 'desama' eu vou simplesmente sumir.
   - Então guardarei esse amor pra sempre, pra que seja minha eterna companhia.
E a Saudade ficou ,ele nunca 'desamou' e eles foram companhia um do outro até o fim. Novos amores surgiram, como a Saudade havia dito, mas nenhum deles o fez esquecer o que fazia a  Saudade te visitar. Aquele amor o marcará, mas o que o fazia lembrar dele toda noite não era  ele em si, mas a saudade que sentia da Saudade.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Sozinha



Sinto- me cada vez mais só. Vejo todos que usaram seus braços e pernas para me darem apoio, retirando lentamente seus membros até me deixarem sozinha segurando o meu mundo. Um mundo de sonhos perdidos e dos que ainda tenho. De erros, de lembranças, de tristezas e alegrias. Meu mundo de manias, músicas, poemas e imagens. Ele parece tão pesado e eu tão pequena pra segurar tudo isso. Vejo os que antes eram minha base me atirando pedras e os que não estão lá, nesse “jogo de tiro ao alvo”, o tempo já levou. Talvez eu seja apenas isso, um suporte para o mundo que só eu entendo. Um mundo tão grande que um dia cairá sobre mim me reduzindo a pó, na melhor das hipóteses, ou a uma pilha de vísceras, na pior delas. Vísceras que um dia serão recolhidas e descartadas. Eu sinceramente prefiro a segunda hipótese, é mais macabro, porem é mais fácil notarem uma pilha de vísceras que uma de pó ao passarem por ela.

sábado, 15 de março de 2014

"Não apertar, não sufocar, ir devagar" repetia ela como a um mantra necessário a sua paz. Sua pressa ao agir já o tinha assustado antes, ela não queria que se repetisse novamente. Mas como segurar a vontade de amar? Como calar um coração que grita pelo que acredita ser seu?
"Não apertar, não sufocar, ir devagar", era isso que pensava sempre que passava pela sua mente persegui-lo na rua, ou grampear seu telefone como antes. Mas como não querer saber noticias de quem se deseja?
"Não apertar, não sufocar, ir devagar," ela queria queria acreditar que aquilo ai funcionar melhor que confessar seus sentimentos como antes. Mas como evitar o que se deseja? O que se quer não se dever ser evitado.
"Vou te apertar, até sufocar bem devagar", ela pensava com seu sorriso assustadoramente largo no rosto. Então ela viu que alguém já o abraçava apertado e sufocando seu sentimento, ela o matou bem devagar.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Versos sentidos



Vejo um olhar marcante
Que me desnuda mesmo vestida
Que me enxerga no intimo
Que entende, que me decifra

Ouço palavras sussurradas
Ditas com certo medo
Certezas, ainda erradas
'Insecretos' segredos

Sinto em minha pele tremula
O que não se pode sentir a mão
Sinto a ternura reprimida
Que guardas no coração

E o gosto que me vem à boca
Me emudece, me faz esquecer
É o gosto de outra boca
Boca que pertence a você

Seja sentido, sentimento ferido
Seja tocado, sentimento amado
Seja guardado ou envelhecido
Mas nunca esquecido, nunca deixado.

Pessoas e bolhas

Alguns costumam comparar pessoas sem sentimentos ou princípios a bolhas de sabão. "Belas, porém vazias" dizem eles. Não concordo cm tal afirmação. Não acho justo com as bolhas. Afinal, para que permaneça inflada uma bolha é necessário haver gases dentro dela, tornando-a assim, mas cheia que muitas pessoas.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Sim e não

Sou deveras uma pessoa de fáceis "sims", e por isso já cometi muitos erros. Amigos já me aconselharam -Mude, você não pode errar a vida toda- diziam eles. Muitos ainda completavam -Você precisa crescer-. Mas ai eu me perguntei- Como se cresce?-. Eles queriam que eu crescesse mentalmente, que eu me tonasse alguém mais sábio, menos impulsivo. Lembro que uma vez me disseram que são as experiências que tornam as pessoas mais sabias, são as tentativas e erros que nos fazem aprender. De que outra forma poderia eu ser alguém "maior" se não fosse errando e tentando? E de que outra forma eu tentaria se não fosse permitido a mim o "sim"? Seria o "não" mais sensato? Essas questões já me tirarão o sono por muitas noites, até que percebi que se eu não tivesse tentado algumas insanidades, se eu não tivesse errado, eu teria deixado de viver tanta coisa incrível que simplesmente não haveria motivo pra viver. Sei que o "sim" nem sempre pode ser a resposta pra tudo, mas me pedi com jeitinho que esse "talvez", que tenho saltando da boca, rapidinho muda pra algo mais "SIMdável".

segunda-feira, 10 de março de 2014

Amigos

A amizade é um sentimento bem complexo. Ser amigo não é apenas dirigi-se a alguém como "meu amigo", não é só ter uma pessoa em todas as redes sociais, não é só estar em todas as festas com a mesma pessoa. Ser amigo é apoiar nos momentos difíceis e sorrir junto nos momentos alegres. Ser amigo é dar conselhos,  mesmo sabendo que não serão seguidos. Ser amigo é ir junto, mesmo sabendo que sua companhia só faria seu amigos se ferrar acompanhado. Ser amigo é engolir seu próprio choro e ir enxugar o do amigo. Ser amigo é se sentir mais triste com a tristeza do amigo  que com a sua. Ser amigo é se preocupar mais com o outro de consigo mesmo. Ser amigo é ser xingado e responder com um "eu  também te amo". Enfim, ser amigo é amar mais do que se cabe em si.

domingo, 9 de março de 2014

Perambulando

Ela andava pelas ruas escuras. Já era tarde. Qualquer um sentiria calafrios ao andar por ali sozinho, mas ela não. Ela estava só com sua solidão e parecia que não existia mais nada ao seu redor. Em seu rosto, nem sorriso, nem lágrima, apenas um rosto. Afinal seria só mais uma caminhada... Seria, se ela não tivesse passado ali. Ela reconheceu o local a medida que se aproximava. Era ali! Foi ali que ela sentira pela primeira vez o beijo daquele que era dono do seu passado, que era parte do seu ser. Aproximou- se lentamente e no instante em que chegou ao exato local ela o sentiu. Sentiu uma onda lhe cobrir a face, viu-se no passado mais uma vez enquanto caminhava. Ela viu os olhos dele a hipnotizando a poucos centímetros dos seus, viu aqueles lábios rosados e bem desenhados tremerem de nervoso, viu a insegurança sendo derrotada pelo desejo em uma só expressão facial. Pode sentir os braços fortes a envolvendo e trazendo-a pra perto, sentiu até o toque do beijo, o beijo mais doce que tocará sua boca. Mas sentirá também algo que não existia da primeira vez que esteve ali, uma lágrima que escorria do seu rosto. Uma lágrima quente que a fez despertar. A onda passará, a ilusão passará, tudo passará. E quando ela olhou pra trás não havia mais nada, só escuridão, só ilusão, só saudade.